Facilitam também, a aproximação os banquetes, à mesa,
há qualquer coisa mais, além do vinho, que aí deves buscar.
Muitas vezes braços delicados, os lançou o Amor de rosto afogueado,
sobre os chifres apertados de Baco, bem bebido,
e quando o vinho se espalhou sobre as asas esponjosas de Cupido,
ali fica e permanece prostrado do peso no lugar onde estava;
e logo sacode, à pressa, as penas encharcadas,
mas as próprias gotas sacudidas pelo amor são danosas ao coração.
O vinho põe o coração a jeito e torna-o pronto para a fogueira;
os cuidados desvanecem-se e diluem-se numa boa dose de vinho puro;
chega então, o riso, então o pobre ganha coragem,
então a dor e os cuidados e as rugas desaparecem do rosto,
então a simplicidade, tão rara no nosso tempo, abre os
corações, sacudidos que foram os artifícios pelo deus.
Ali, muitas vezes as moças arrebataram os corações dos rapazes
e Vénus, no vinho, tornou-se fogo no fogo.
Aqui, não te fies tu em demasia nas luzes enganadoras;
na apreciação da formosura, são danosos a noite e o vinho.
Foi à luz do dia e com céu desanuviado que Páris contemplou as deusas,
quando disse a Vénus: “És tu quem leva de vencida as outras duas”.
De noite ficam disfarçados os defeitos e desculpam-se todos os vícios;
essa é a hora que torna formosa qualquer uma;
consulta, antes, a luz do dia a respeito das gemas, da lã tingida de púrpura,
consulta-a  a respeito do rosto e do corpo

In Arte de Amar, Ovídio

42-17234042

Fresco: Giulio Romano